quarta-feira, 1 de dezembro de 2010


CONTROVÉRSIA [I]


Eu poderia começar com o era uma vez, se não fosse pelo fato dessa história se fazer tão presente dentro de mim até hoje.

Aos 18 anos, eu estava certa que havia dado pra vida tudo o que ela podia exigir de mim, mais eu estava enganada. Sempre temos com o que nos surpreender.
Eu jurava que era manhã, mais já se passavam das 14 horas. Meu Domingo sempre tinha sinônimo de ressaca e felicidade, embora muitas pessoas lutem pra esconder o quanto a vida se torna menos problemática com esse tipo de coisa. Ainda no escuro meus pensamentos voavam e eu ria sozinha. É pedir demais querer voltar á algumas horas atrás? Eu jurava pra mim mesma que não, então em pensamento eu me lembrava, só que dessa vez, prestando atenção em cada detalhe.
Senti vibrar. Meu celular e companheiro me avisando que em meia hora minha família estaria de volta. Minha cama estava tão gostosa e me pedia pra ficar. Ou eu levantava, ou seria obrigada a escutar xingos até o dia seguinte. Fiquei com a primeira opção.
Pé ante pé arrumei o quarto. Roupas, sapatos, maquiagens, tudo que uma garota gosta fora do lugar. E eu me esforcei pra parecer uma menina que havia passado o sábado em casa vendo um belo filme. Era isso o que eu mentia pra mim mesma, e quase cheguei a acreditar – se não fosse pelos pensamentos que me perseguiam de culpa repulsa.
- CHEGUEI! – conhecia aquela voz de longe. E tem visita pra você!
Disso sim eu gostava, visita surpresa. E pela pulsação do meu coração de olhos fechados eu já o sentia. Já não precisava de mais nada, estava completa.
- Senti saudades.
- Sempre me perco sem você, mais voltei. – incrível como tudo o que eu falava parecia pouco perto das palavras dele. Então me beijou, e como todos os outros beijos me faziam sentir calafrios e borboletas no estômago,e o que vinha depois era bem mais gratificante: aquele sorriso! Era quando eu ficava boba e me perguntava o que aquele príncipe fazia do lado de uma isaura? Mais no fundo, preferia não saber essa resposta.
- Precisamos conversar – ouvi em um sussurro – espero que tenha algumas horinhas na sua agenda.
- Acho que tenho uma vaguinha pra você – sorri o máximo que pude, como se quisesse passar a importância que ele tinha na minha vida.

Ele estava me levando ao meu lugar predileto, me questionei em silêncio qual seria a surpresa ou novidade dessa vez. Eu tentava descobrir sobre seus olhares, mais ele estava tão sério dirigindo que preferi não desviar a sua atenção. Sempre agindo como a menina encanada – e isso era uma conclusão que eu mesma tirará de minhas atitudes – comecei a me perguntar se era algo sobre a noite anterior. A minha noite que como várias outras, ele não sabia que havia feito parte do meu calendário. Ou melhor, da minha vida. Bateu o arrependimento, em nervos do momento jurei pra mim mesma que não faria de novo, que viveria apenas por ele e deixaria minhas regalias de lado, mesmo talvez sendo um pouco tarde demais pra esse tipo de promessa.
Descemos do carro, segurei firme na mão dele quase que pedindo pra não soltar, só me faltaram as palavras, então ansiei pra que ele me fizesse mais feliz que nunca.
- De todas as atitudes que tomei na vida, você foi a mais corajosa, - começou ele fazendo um leve sorriso aparecer em mim – e eu podia passar anos a fio tentando te mostrar que além de corajoso eu estava certo. Mais pode passar uma vida inteira, algumas coisas sempre serão inexplicáveis, e certas atitudes injustificáveis. Te deixar livre foi a minha opção, não só por você como por mim.
Tudo o que ele falava parecia sair tão natural que eu chegava a pensar que fosse mentira.  Um milhão de pensamentos em um segundo. Garotas sabem quando estão em apuros. Continuou:
- Em todo esse tempo se teve um engano que cometi foi trocar o mundo lá fora por você. Isso não fui ruim, porque ainda sim tive meus momentos felizes, mais foi um erro porque você nunca se desapegou totalmente de outras vidas pra fazer parte da minha.
Ele estava mais certo que nunca, talvez eu tivesse deixado a desejar, mais eu havia incluído ele nas minhas maravilhas e estava sendo tão injusto quanto todo o meu passado.
- Me de um bom motivo pra eu não insistir – disse em lágrimas sendo forçadas a não cair, eu ainda tinha tempo pra pensar em demonstrar ser forte.
- Algumas coisas não valem tamanho sacrifício.
Era o bastante pro fim de um amor, quanto mais ele falasse, maior seria a dor antes de dormir. Sem despedidas, eu lutava pra agüentar firme por mais alguns minutos, eu precisava ficar sozinha, havia passado tão rápido que não havia tempo pra respirar. Ele beijou minha testa, era como costumava fazer quando sabia que eu precisava e deu aquele sorriso torto, assim, ele sabia que me prenderia a vida dele por mais algum tempo. Então ele foi, aquele jeito de andar que eu conhecia como a palma da minha mão, parecia que tinha um compromisso inadiável. Talvez realmente tivesse.
Me sentei na grama como se não houvesse mais nada a se fazer, como se muitas coisas na vida parassem de fazer sentido. Meu lugar preferido havia sido estragado. Será que ele tinha feito intencionalmente só pra não haver lembranças boas? Agora não fazia diferença. Eu não sabia o que pensar. Sempre saindo as escondidas, tendo tudo sob controle e nas minha mãos, eu havia me acostumado com ele sempre ali, apesar dos apesares. Meu desejo de aprontar pareceu uma coisa tão mesquinha. Como eu conseguia? Eu tinha absolutamente tudo o que precisava, uma vida ligada a minha. Me senti tão criança. Eu estava tão errada e tão cega, achando que levaria essa vida sempre, uma aqui e outra ali. Aí descobri que arrependimento dói, no fundo da sua alma e te atormenta tanto quanto os sentimentos bons. Te persegue, e o mais cruel de tudo, além da culpa, faz você pensar coisas horríveis a seu respeito.