CONTROVÉRSIA [II]
Em silêncio deixei que minha vida se transformasse nos dias seguintes. Na verdade não foi necessário tanto esforço, quando perde o que se ama se perde o chão e o sentido da vida passa a ser outro.
- Tudo o que você faz é se fechar completamente! Acha que isso vai levar você a algum lugar? Acha que vai trazer ele de volta? – No fundo eu esperava que sim.
- Não mãe. – agora era a hora em que bloqueava meus ouvidos e meus pensamentos, me distrai com uma borboleta e me concentrei naquilo: como ela em seu inicio se fecha no casulo como lagarta pra se proteger de sua metamorfose, esperando o amadurecimento das asas que lhe permitem voar. Era tão obvio, esperar a hora certa para se libertar, mais não era o meu caso. De alguma forma eu me sentia presa ao meu passado, a pessoas que não estavam mais como antes na minha vida e em momentos que não passavam de boas recordações, mais eram só lembranças. Quando me dei por conta já estava sozinha de novo, os xingos da minha mãe pelo menos serviam de inspiração pra eu me distrair por alguns minutos.
Peguei meu companheiro, sabia que precisava me distrair e dar pra minha vida um rumo, digitei aquele número que por vezes não saia das minhas chamadas recentes.
- Alô?
Aí que falta me fazia essa voz!
- Deb sou eu, a Brenda. Hã, tudo bem?
- Meu Deus! Ta explicado esse tempo nublado, vem chuva por aí! – risos. Ela e suas piadinhas, garanto que estava tão surpreendida quanto eu. – Tô ótima, e você? Soube sobre o Deny...hã sinto muito, talvez não era pra ser mesmo...
- A vai passar, faz parte! – era o que eu sempre dizia com a voz rouca, e forcei alguns risinhos – Então, será que é muito tarde pra continuar de onde paramos, dessa vez sem intervalos?
- Se isso é um convite pra sairmos no fim de semana está mais que combinado, levarei na sua casa o filme e a pipoca.
Tudo era tão mais fácil com Deb, sempre sem rodeios.
- Está combinado, qualquer coisa pode me ligar. Beijos
- Tchau.
Havia passado muito tempo desde a ultima vez que estive com Deb, apesar do desentendimento era bom ver que ela ainda estava lá, e mesmo depois de 5 meses (é muito tempo sem a sua melhor amiga) estava a mesma garota de sempre. Acho que havíamos superado as nossas diferenças.
- Quem era filha? – minha mãe sempre me pegando de surpresa
- Deb mãe, ela vem em casa no fim de semana (recuperar o tempo perdido, pensei comigo mesma).
- Fico feliz de ver que estão recomeçando filha! Ela faz falta pra você!
- Você nem imagina o quanto.
- Não deixe que nada nem ninguém estraguem isso Brenda, vocês sempre foram apegadas é bobagem deixar que algumas coisas acabem com isso.
- Nada nem ninguém mãe –repeti.- Não vou deixar.
Ela assentiu com um sorriso.
Subi a escada em direção ao quarto, parei na porta por um instante, minha vida meu coração e pra completar meu quarto, tudo fora do lugar. Talvez dando uma geral no quarto fosse um bom recomeço, mesmo já sendo tarde eu ainda tinha um certo medo de colocar a cabeça sobre o travesseiro, sabe como é, pensamentos ruins tem o dom de nos perseguir a noite.
A três meses que não havia mais o termo “eu e ele” também havia fugido da minha vida a palavra guarda-roupa. Engraçado como deixei que o mundo me engolisse e levasse minhas pequenas manias embora. Resolvi colocar cada coisa no seu devido lugar. Deixei apenas o que prestava, o que me trazia lembranças boas, o que me fazia rir. Separei coisas que agora classificava como pilha de lixos, e aquelas que hoje não mudavam em absolutamente nada. Estava disposta a jogar tudo fora – era meu quarto ou meu coração? – Queria passar a impressão de uma pessoa normal para a minha antiga melhor amiga. Eu precisava de uma nova chance, assim foi o modo que achei de começar.