quarta-feira, 8 de dezembro de 2010


 CONTROVÉRSIA [III]

         O sol de algum modo tentava se expor, lá fora e na minha vida. Tratei de me acalmar, a ansiedade estava me dominando. Era sábado e eu estava decidida a juntar os pedaços que perdi da minha vida durante o ano. Definitivamente, eu era teimosa.
         A campainha tocou e me surpreendi ao descer correndo as escadas, há tempos não sentia essa vontade louca de receber visitas.
         - Espero que não tenha chegado cedo demais (aquela sinceridade de sempre)
         - Claro que não Deb! Estava com saudades!
         - Eu também Brenda, e muita ainda.
         Ela me abraçou, meu coração disparou, meu olho se encharcou. Era bem a minha cara morrer pelas amizades. Ela me pegou pela mão e sentamos no sofá, tirou uma foto do bolso, belas garotas! Havia um texto atrás, com uma letra que eu reconhecia perfeitamente. Mais horrível que nunca.
“Sobre todas as coisas que você é obrigada a ouvir diariamente, quero que preste atenção nessa; uma garota precisa de roupas novas, sapatos e brincos novos. Faz parte da nossa vida seguir uma moda, ou pelo menos estar sempre em dia com nós mesmas, pode ser puro capricho, mais está no instinto. Mesmo os velhos sapatos podem nos cair bem um dia, afinal, nos adaptamos a eles, e aquelas calças jeans desbotadas no fundo do guarda roupa? Tenho certeza que irão ficar perfeitas de novo. Eu só quero que entenda, irei te conservar dentro de mim sempre, e não importa se o tempo passa, ou se é apenas costume de você. Eu me adaptei, e não é só porque o tempo passa que signifique que tudo ira ficar velho um dia. Pensando bem talvez eu possa envelhecer com você. Um sapato lindo, que um dia serviu pra salvar a minha vida.”                                  13/05/2000
Dois anos atrás. Minha vontade de tentar se expressar com a escrita já vinha a algum tempo, mais percebi que nem sempre conseguia. Comparar ela com um sapato? Talvez fosse tosco demais. Talvez ela tivesse entendido. Eu amo sapatos.
- Você sabe que merece bem mais que isso? – eu disse enxugando os olhos- .
- Você sempre faz o máximo que pode – ela me abraçou, e foi aí que senti. Ainda continuava tão verdadeiro. Nunca havia saído de dentro de mim, e por todas as coisas que passamos, a ultima briga havia sido pior, ainda assim nos conseguiu aproximar mais.
Fomos para o quarto, conversamos, comemos e vimos filmes.
Apesar de algum vazio, eu me sentia completa e me senti chateada ao perceber o quanto havia deixado minha vida fora do lugar. Meu orgulho havia se cansado e pessoas estavam indo embora. Eu culpava elas, e nem percebi que se pedisse pra elas ficar, elas ficariam. Estava eu e meu mundo. Como eu consegui sobreviver por tanto tempo apenas com meus caprichos? Talvez fosse tarde demais, eu já havia perdido um amor. Talvez não fosse amor, mais era assim que eu chamava a falta que ele me fazia. Talvez não fosse tão tarde assim, eu perdi um amor, e reconquistei outro. Talvez se eu não tivesse perdido o primeiro, de onde arranjaria coragem pra correr atrás do segundo? Por um segundo me senti orgulhosa. Cheguei a pensar que as coisas são como devem ser. Mais cabe a nós correr atrás do que realmente nos importa, porque a vida não afasta pessoas, nem o tempo. Quando elas acham o que devem buscar, pegam a mala e vão embora, procurando alguma coisa que faça sentido. E eu? Vou atrás, pra não deixar que mais ninguém fuja de mim.